Caminhando calmamente pela blogsfera, me deparei por esse texto aqui.
Quem me conhece sabe que eu sou 50% feminismo e 50% artes (no geral). Sabe que eu não suporto machismo, sabe que eu tenho um #ProtectWomenAtAllCosts tatuado no coração, sabe que eu faço tudo o que posso para desconstruir a imagem errada que as pessoas têm do feminismo. Quem me conhece sabe que eu só deixo de explicar certas coisas (que deveriam ser obvias) quando está muito cedo e eu estou mortinha de sono e preguiça.
E quem me conhece, ou que acabou de chegar e deve estar adivinhando, sabe que comentários no estilo desses do post já lincado fazem meu sangue roxo e purpurinado ferver até evaporar.
O post, para quem não quer ler, fez uma pesquisa com milhares de mulheres falando sobre assédio, cantadas indesejadas e indiscretas e esses outros problemas com os quais nós temos que lidar diariamente. Ele mostra, com ajuda de gráficos, que a maioria das mulheres (para a surpresa dos homens!) não gosta de nada disso.
Mas, como sempre, nem todo mundo soube interpretar dessa maneira.
Lendo os comentários (por que é que eu sempre faço isso?), encontrei frases como "essa pesquisa não está clara, parece ser tendenciosa", "não concordo com nenhum tipo de assédio, mas esses números parecem ter sido manipulados", "acho que tem maneiras de abordar as pessoas na rua. Acho que tem que ter muito mais cuidado, acho que tem verificar se não está encurralando a pessoa".
Gente, pera lá.
Verificar se não está encurralando a pessoa?
Desde quando "encurralar uma pessoa" é um fato que deve ser verificado? Isso é algo que deve ser percebido antes de tomar uma atitude. Você acha que sua ação vai parecer forçada, vai deixar a pessoa presa, encurralada? Então não faça nada. Se você estiver com a sensação de que está errado (a), é porque está.
A pesquisa não está clara?
Em todos os tópicos (e, eu repito: todos) foram utilizadas palavras-chave para evitar qualquer tipo de confusão. Assédio, cantadas indiscretas. Tudo foi perfeitamente montado para mostrar que há uma diferença entre flerte saudável e invasão, violação da privacidade de alguém. Se há alguma dificuldade em diferenciar os dois, então, definitivamente, algo de errado em você não está nem um pouco certo.
Uma cantada invasiva soltada por um desconhecido na rua ("gostosa", "ah, se estivesse na minha cama...", "delícia") nunca é bem-vinda. Dá uma sensação de violação, de falta de respeito. Esse tipo de coisa exige certa intimidade entre os envolvidos.
É completamente diferente de um flerte saudável, onde o cara em questão chega de forma simples puxando assunto sem soar invasivo. Quando a coisa desenrola naturalmente, a menina não se sente encabulada e não faz cara feia para suas palavras e seus gestos (ou seja: não te dá um tapa na cara quando você tenta tocá-la). Está certo.
Se ela te der um "não" na lata, é porque você chegou sem nem conversar. Chegou "já chegando". É porque está errado.
E, gente, pelo amor de (divindade aqui), não não é talvez. Não não é "sim em língua de mulher" (não acreditem nas coisas que o 9gag fala, por favor). Não é não. Não é não. Não insista, não diga que ela está fazendo charme, não a chame de metida, não tente a humilhar. Ela não vai mudar de ideia por isso. Ninguém vai.
Não, pela última vez, é não.
E se você não sabe diferenciar charme de resposta definitiva, já ultrapassou os limites do errado.
Vamos respeitar a mulher, ok? O corpo dela não é sua propriedade para chamar do que quiser e tocar como quiser. Ela não é seu objeto para ser invadida e violada quando te der vontade. Ela não é um ser que está aqui apenas para te dar prazer, filhos e roupa limpa. É um ser humano. Um ser humano incrível, lindo, magnífico, e que merece ser tratada como um ser humano.
Para ilustrar o post, deixo aqui um vídeo preciosíssimo que todos deveriam assistir, até mesmo quem não é fluente em inglês. Espero que tenham entendido a mensagem.