sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Reclamar a gente reclama

O ano de 2016 foi péssimo pra 99% da população mundial. Acidente aqui, desastre lá, tiroteio por aí e muita energia pesada dominando esses 12 meses. É um consenso entre todas as pessoas (do twitter) que, a partir de 01/01/2017, daqui a 23 dias, nós começaremos a fingir que 2016 nunca aconteceu.

Foi um ano particularmente pesado para mim. Problemas familiares, estresse escolar e o último ano cada vez mais próximo fizeram cair a ficha de que, puts, o tempo tá passando, e não há nada que eu possa fazer a respeito. Exceto, talvez, amadurecer, mas deixa isso pro ano que vem, né? Agora já tá meio tarde.

Com a crise no Brasil e no mundo (não disse que tipo de crise), acho que dá pra generalizar dizendo que não tá fácil pra ninguém. Os perrengues mudam de gravidade mas causam rebuliço na vida de todo mundo, e, desanimados com a vida, sentamos na mesa do bar com um balde de cerveja na nossa frente para reclamar da vida e competir quem está na pior. Era mais ou menos aí que eu queria chegar.

Todo ano é "a mesma merda" (com o perdão da expressão) porque todo ano fazemos a mesma merda (perdão novamente). Todo ano começamos com toda aquela esperança de que vai ser melhor porque é fácil ter essa esperança no conforto da casa da praia quando não estamos nem trabalhando nem estudando, e lá pelas tantas de fevereiro, quando os problemas começam a chegar, desistimos completamente da positividade e enfiamos o pé na jaca da reclamação. E nessa onda de reclamar e não fazer nada para mudar, a bola de neve vai se acumulando e chega, ao fim de dezembro, maior do que deveria. Grande o suficiente pra esmagar a gente, nossa casa, o pé de amora no fundo do quintal e a churrasqueira do vizinho.

Estou começando a pensar que o problema não é nem nunca foi com os anos. Ano nenhum tem poder de controlar as merdas da nossa vida, mas a gente tem. A bola de neve de negatividade é nossa para a gente definir se vai rolar sem obstáculos até o fim do ano ou se vai ser interrompida de tempos em tempos pra não ficar grande demais. Não estou dizendo que a causa da bola de neve é nossa, porque ela se forma naturalmente, mas cabe a nós colocar árvores e pedras no caminho dela e evitar que deslize tão facilmente pela nossa vida.

Nessa primeira parte do especial de fim de ano que eu sempre apareço para fazer porque sou a maior cara de pau que vocês respeitam, fica aqui minha primeira resolução pra 2017: positividade. A merda rola, mas eu posso muito bem espirrar um Glade para encobrir o cheiro.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Item 48: riscado

Estou aqui apenas para dizer que: risquei o item 48 com sucesso.

É como diz o ditado: meu Deus do céu, o que foi que eu fiz??
Vontade de cortar não faltava. O principal motivador foi minha ideia de doar (por isso cortei 20 cm, apesar de sentir na alma que foram 150 km), mas o acampamento desse feriado agravou minha necessidade de tosar a juba. Sobre o acampamento eu falo mais tarde.

Não tenho foto bonitinha pra postar no momento, mas ele está acima do ombro. Batia na cintura. É.

Minha dica para todos que passam pelo dilema "corto ou não corto?" é: cabelo cresce. Você pode raspar, descolorir, pintar de roxo, cortar franjinha... O que quiser. Ele volta ao normal, eventualmente. 

Se joga!

sábado, 14 de maio de 2016

Síndrome de meio de ano

Fim de ano é o período em que a gente larga os bets e pensa "tá acabando mesmo, ano que vem eu tento de novo". Janeiro é o período em que a gente recuperar as forças pra tentar de novo. Em fevereiro está todo mundo bem, feliz, com ânimo pra viver e a mão de mudar a vida chega a tremer.

Esse pique de início de ano só dura, bom, no começo do ano. Porque lá por maio já está todo mundo cansado, com frio, cheio de dor nas costas e muito sono acumulado. Estudantes contam os dias pras férias de julho. Quem não estuda já chora esperando pelo próximo feriado. Mas ainda é cedo demais pra largar os bets, então a gente vai levando.

Eu nunca tive o hábito de estudar. Desde pequena sou acostumada a só reler o conteúdo um tempinho antes da prova e fé em Deus que é sucesso. Dependendo da matéria, quando me dá ânimo, eu até faço um resumão na noite anterior. Mas ter rotina de estudo? Nah. Não nasci pra isso.

Todo mundo passa por essa fase de não nasci pra estudar e leva um tapa na cara quando começa a sentir cheiro de ENEM e vestibular na sala de aula. Todo mundo está acostumado a empurrar com a barriga pro último dia e leva um choque de realidade quando, de repente, até o mais parceiro dos professores não consegue parar de falar do vestibular da Federal.

A gente entra no Ensino Médio pensando "tenho tempo". Passamos o 1º ano ouvindo "calma, ainda tem três anos". E a gente acredita nisso. Empurra com a barriga. Chegamos no 2º pensando "ainda tem esse e o próximo". Passamos um mês, talvez dois acreditando nisso. Mas lá por abril, a coisa muda de figura. É um tal de "não deixa pro terceirão", "estuda agora", "se for deixar pra última hora você não vai passar", "fazer um bom 2º ano é fundamental", "eu queria ter estudado mais no 2º", "estuda mesmo, eu to usando os resumos do ano passado pra estudar". Quê? Volta. Rebobina a fita. I didn't sign up for this.

Quando o bafo de onça do tal do vestibular bate na nossa cara, não tem despreocupado que não se preocupe. Não tem quem não faça competição pra ver quem estuda mais. Não tem quem você não encontre à tarde, nos plantões, porque ninguém tá sabendo de nada e tá todo mundo f. Desculpem pela expressão.

Eu nunca tive o hábito de estudar, apanhei de havaianas de pau já no primeiro trimestre e agora caiu a ficha que não dá pra empurrar com a barriga. Ano passado deu. Esse ano o número de recuperações que eu peguei no 1º ano inteiro está prestes a ser superado pelo número de recuperações em que eu estou agorinha.

Nunca tive o hábito de estudar, tive que aprender na marra e consegui sobreviver a semana estudando todos os dias. Digo, sobrevivi parcialmente. Porque já é maio, estou longe de poder largar os bets, mas as férias estão tão pertinho...

P.S.: O banner está como "Entrelinhei" mas o blog continua se chamando Entrelinhas. É que a lesa não percebeu o typo e esqueceu de avisar a designer. A vida tem dessas.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Deixa as mina

Como a boa problematizadora que sou, simplesmente não podia deixar passar em branco a bola fora que a revista Veja  deu nessa semana.

Para começo de conversa, você nem precisa ler o texto em si pra sentir que está sendo sugada até a Idade Média. O subtítulo da reportagem já traz uma bomba de ideais ultrapassados: "A quase primeira-dama, 43 anos mais jovem que o marido, aparece pouco, gosta de vestidos na altura dos joelhos e sonha em ter mais um filho com o vice".

Pera. Quê?

Antes de prosseguir para a problematização, vou deixar alguns trechos da reportagem para que reflitam comigo.

"Marcela se casou com Temer quando tinha 20 anos. O vice, então com 62, estava no quinto mandato como deputado federal e foi seu primeiro namorado."

"Marcela é uma vice-primeira-dama do lar. Seus dias consistem em levar e trazer Michelzinho da escola, cuidar da casa, em São Paulo, e um pouco dela mesma também (nas últimas três semanas, foi duas vezes à dermatologista tratar da pele)."

"Michel Temer é um homem de sorte."

Não vou envolver política no meio porque esse link cada um dá conta de fazer sozinho.

A reportagem inteira tenta vender Marcela Temer como a mulher perfeita. Recatada, dona-de-casa, casou jovem com o primeiro namorado que teve, preocupada com sua estética. Michel Temer é um cara de sorte de ter esse tipo de troféu dentro de casa.

Mas e se ela não quisesse ser assim?

E se ela gostasse de usar roupas mais extravagantes? E se gostasse de trabalhar fora, talvez na política como o marido? E se tivesse namorado 17 caras antes de encontrar o que ela finalmente julgasse perfeito para casar? E se ela não se importasse com estética?

Se Marcela Temer fosse diferente, Michel Temer não teria tanta sorte assim?

Não existe a mulher perfeita. Existe mulher de um jeito, mulher de outro, todas são perfeitas e todas são mulheres. Nenhuma é melhor que a outra. Nenhuma deveria ser mais como a outra. E nenhuma definitivamente deveria se sentir inferiorizada por não ser tão parecida com a outra.

A Veja pecou ao fazer um texto para vender uma imagem que a gente já deveria ter deletado há muito tempo. Mulher não presta só quando está em casa, só quando é dona-de-casa, só quando é o troféu perfeito. Mulher não é comida para prestar, para ter validade, para ter jeito de ser. Mulher é ser humano com sentimentos, com ambições, com consciência. E a mulher pode sim querer ser Marcela Temer, assim como pode querer ser Kim Kardashian, Maria Eduarda de Oms, Julia Souza, Rafaella Gonzales ou qualquer outra mulher de qualquer outro nome que você consiga pensar.

Mulher é como mulher quer e se você tá incomodado, faz um robô e configura ele pra ter as atitudes que você julga ideais.

E, pelo amor de Deus, deixa as mina.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Das vezes que você entendeu errado

Existem pessoas e pessoas. Eu sou uma pessoa que não leva a sério sarcasmo nem ironia (a não ser que o comentário em questão tenha sido feito com o intuito de me ofender ou ofender alguém que eu gosto), e uso dessas figuras de linguagem livremente. Não porque quero ser grossa, mas porque sei lá. Dá vontade. Nem sempre dá pra segurar.

Mas aí você entende errado.

A pessoa liga no telefone fixo e pergunta "tá em casa?". Eu respondo "não, resolvi levar o telefone pra passear". A pessoa fica brava. Tive o intuito de ser grossa? Não tive. Fui? Não pra mim. Pra ela eu fui.

É cansativo ter que pensar o tempo todo em como vou falar com as pessoas porque elas podem se ofender. Umas não ligam para sarcasmo e ironia, inclusive também usam essas figuras de linguagem livremente, mas outras ligam sim. E fica chato ter que pensar com quais pessoas eu posso ser ironica e quais levam muito a sério e choram no banheiro, porque não quero ofendê-las. É chato ter que ficar policiando seu jeitinho pra agradar a gregos e troianos? É. 

Mas é mais chato ainda ter que se explicar para o grego que não está acostumado com seu jeitinho troiano de ser.

O negócio é adotar o deboísmo. Rir da ironia da pessoa quando você sabe que é apenas piada (porque ninguém leva o telefone pra passear, mas, francamente, precisava ter perguntado?), dar uns tapa quando ela fala por maldade, soltar os comentários quando você acha que o clima tá leve e ninguém vai levar a mal e respirar fundo contando até dez quando chegar a vontade insuportável de dar aquela espetada na amiga lenta que tá conversando com você.

Aliás, o negócio é sempre respirar fundo e contar até dez. É chato? É. Mas antes engolir o sarcasmo e deixar pra destilar seu veneno pelo twitter do que soltar na hora e se arrepender pelo resto do dia.